Entre a Alma e a Beleza

Pedro Silva

Pedro Silva
2 min readJun 30, 2024

Joseph Frank, biógrafo de Dostoiévski, relata que o autor tinha um ritual anual: viajar a Dresden, na Alemanha, para contemplar a Madona Sistina, obra-prima de Rafael Sanzio, artista italiano. Para Dostoiévski, essa peregrinação era um bálsamo para a alma, renovando sua esperança na humanidade ao imergir seus sentidos no que é belo.

É fascinante pensar que um escritor tão imerso nas profundezas sombrias da natureza humana encontrava refúgio na beleza. Seus romances são densos, intricados e profundamente agridoces. Contudo, em “O Idiota”, quando Ippolit questiona Míchkin sobre sua convicção de que a beleza, e não a riqueza ou a ciência, salvaria o mundo, encontramos um eco dessa esperança. Míchkin, ao lado de um jovem à beira da morte, demonstra através de sua compaixão e hospitalidade que é a beleza contida em gestos como esses que verdadeiramente têm o poder de salvar o mundo.

Dostoiévski acreditava que, assim como não podemos viver sem pão, também é impossível viver sem beleza, entendendo-a não apenas como uma experiência estética, mas como uma dimensão ética e religiosa.

Na “Carta aos Artistas” de 1999, o Papa João Paulo II expressa: “Desejo a todos vocês, queridos artistas, que sejam especialmente abençoados por suas inspirações. Que a beleza que transmitirem às gerações futuras avive nelas o assombro e a fascinação. Diante da sacralidade da vida humana e das maravilhas do universo, o assombro é a única atitude adequada. A humanidade de hoje e de amanhã necessita da beleza para enfrentar e superar os desafios iminentes.”

Como Hans Urs von Balthasar uma vez disse: “Beleza é a primeira palavra de um teólogo para este tempo.”

Gosto bastante quando Russ Ramsey, em seu livro “Rembrandt Is in the Wind” (Zondervan 2022), diz que quanto mais nos envolvemos com o que é belo, mais treinamos nossos corações para antecipar a descoberta da beleza, até que, eventualmente, onde quer que vamos, estejamos procurando por ela.

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