Uma Leitura Pós-Supersessionista de Gálatas - A morte de Paulo para a Lei (Gl 2:19)

Joel Willitts

Pedro Silva
3 min readJul 2, 2024
Photo by Tim Wildsmith on Unsplash

Joel Willitts (Ph.D. Cambridge) é professor de Estudos Bíblicos e Teológicos na North Park University, em Chicago, IL, desde 2006. Ele também lecionou como professor adjunto no Judson College, Wheaton College, Northern Seminary e The Kings University. Autor de “Matthew’s Messianic Shepherd-King: In Search of ‘The Lost Sheep of the House of Israel’” e “The Kregel Pictorial Guide to the Dead Sea Scrolls”, Willitts co-editou diversas obras, incluindo “Introduction to Messianic Judaism” com David J. Rudolph. Suas pesquisas e escritos abordam o Novo Testamento como literatura judaica do Período do Segundo Templo, destacando a continuidade entre os Testamentos. Atualmente, Willitts está desenvolvendo três grandes projetos: uma monografia sobre a Epístola aos Gálatas, um estudo aprofundado da história bíblica como a história de Davi, e uma introdução ao contexto judaico do Novo Testamento.

Na Plataforma do Logos, Willitts produziu um curso sobre Gálatas — Mobile Ed: NT340 Book Study: Paul’s Letter to the Galatians: The Gospel for Jew and Gentile (9 hour course) | Logos Bible Software.

Sabemos que a Torá, neste caso o livro da lei de Moisés, era um elemento central do “Judaísmo Comum” no final do Período do Segundo Templo, que coincide historicamente com o Novo Testamento. O estilo de vida de Jesus foi moldado por ela, assim como foram as vidas dos Apóstolos e dos primeiros judeus crentes em Jesus. No entanto, algo frequentemente negligenciado ou subestimado é que não havia uma Torá desvinculada de uma interpretação específica. É impossível considerar a Torá de forma abstrata, como um “livro de Moisés não interpretado”. Isso é evidenciado claramente na literatura judaica da época. Quando obras como Jubileus afirmam que certas leis foram escritas em tábuas celestiais desde a criação do mundo, e portanto são eternas, essas leis são na verdade interpretações ou versões da Torá de Moisés. Larry Helyer expressa bem isso: “as interpretações particulares da Torá defendidas pelo autor também estão incluídas na definição de Torá” (Exploring Jewish Literature, 124).

Mas você deve estar se perguntando qual é o propósito dessa observação. Em primeiro lugar, é crucial reconhecer que a Torá/lei (nomos) tem significados distintos para diferentes judeus e grupos judaicos no primeiro século. Portanto, as interpretações da Torá foram uma fonte significativa de controvérsia dentro do judaísmo primitivo, influenciando o desenvolvimento de diversas correntes judaicas na época. Em segundo lugar, e relevante para o Novo Testamento, poderíamos teoricamente argumentar que uma interpretação da Torá foi substituída por outra. Isso significa que alguém poderia afirmar, ao refletir sobre sua trajetória após uma “conversão”, que trocou uma autoridade interpretativa da Torá por outra. Assim, uma conversão dentro dos limites do antigo judaísmo envolvia, pelo menos em parte, uma transformação hermenêutica de uma interpretação da Torá para outra.

Portanto, pergunto: será que é possível que é isso o que Paulo quis dizer quando afirmou: “Por meio da Lei (interpretação halaquica do Messias), eu morri para a lei (interpretação halaquica dos pais)” (Gálatas 2:19)?

Veja também

Confira o artigo de Joel Willitts que desenvolve sua tese sobre Gálatas 2:19 (“Paul the Rabbi of Messianic Judaism: Reading the Antioch Incident within Judaism as an Irreducibility Story”), publicado no Journal for the Study of Paul and His Letters (2016) 6 (2): p.225–247. Você também pode encontrar uma versão do artigo disponível em seu perfil no Academia.edu (“One Torah for Another — The Halakhic Conversion of Jewish Believers: Paul’s Response to Peter’s Halakhic Equivocation in Galatians 2:11–21”).

(59) One Torah for Another — The Halakhic Conversion of Jewish Believers: Paul’s Response to Peter’s Halakhic Equivocation in Galatians 2:11–21 | Joel Willitts — Academia.edu

Bühner, Ruben. “Criticism from Within Paul’s Relationship to Judaism in Gal 2:19 in the Context of Contemporary Debates”. Mohr Siebeck, Articles Early Christianity (EC) Volume 15 (2024) / Issue 2, pp. 222–236 (15).

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